A Era dos Cidadãos Digitais

O Cidadão cada vez mais conectado.

Bruno Pereira Ferreira

11/21/20253 min read

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“O cidadão do futuro já nasceu — conectado, informado e impaciente.
Ele não espera líderes, ele cria movimentos.
Mas será que a democracia está pronta para esse novo tipo de poder coletivo?”

O desenvolvimento da cidadania percorreu uma longa trajetória desde a Antiguidade. Na Grécia Antiga, especialmente em Atenas, apenas uma parcela restrita da população detinha o direito de participação política: homens, maiores de idade, livres e nascidos na pólis. Mulheres, metecos e escravizados eram excluídos da vida pública — um indício de que a cidadania, embora inovadora para o período, também era profundamente limitada (FINLEY, 1994).

Em Roma, os patrícios possuíam cidadania plena, enquanto plebeus e clientes gradualmente conquistaram direitos políticos ao longo da República, como demonstra a instituição do Tribuno da Plebe (GRANT, 1997). Entretanto, com a queda do Império Romano e a ruralização da Europa, o conceito de cidadão praticamente desapareceu, substituído pelas relações feudais, características de uma sociedade fragmentada e hierárquica (BLOCH, 1982).

A cidadania moderna renasceu com vigor durante as Revoluções Inglesas, a Independência dos Estados Unidos e especialmente a Revolução Francesa de 1789, que introduziu valores como liberdade, igualdade e direitos civis universais. Como lembra Hunt (2009), foi nesse período que surgiu a ideia de direitos humanos como pertencentes a todos os indivíduos. No entanto, esses direitos ainda eram restritos: mulheres, negros e camadas populares continuaram excluídos nas repúblicas recém-formadas das Américas (HOBSBAWM, 2014).

O século XX ampliou profundamente o alcance da cidadania. A expansão das repúblicas, a criação de Estados de bem-estar social e as lutas por direitos civis reforçaram a noção de que cidadania envolve não apenas direitos políticos, mas também direitos sociais — como explica T. H. Marshall (1967). Na América Latina, a redemocratização pós-ditaduras trouxe avanços significativos, ainda que persistisse a influência das elites econômicas. Em outras regiões, como na África do Sul, a luta contra o apartheid culminou no início dos anos 1990, consolidando uma cidadania baseada na igualdade racial (HOBSBAWM, 1995).

No século XXI, os desafios cresceram: serviços públicos sobrecarregados, desigualdade estrutural, burocracias ineficientes e crises de representatividade política. Paralelamente, a tecnologia tornou-se ferramenta fundamental para ampliar acesso a serviços, aumentar a transparência e fortalecer a participação democrática. Castells (1999; 2013) destaca que a sociedade em rede criou um novo tipo de poder social, baseado na comunicação digital e na capacidade de mobilização autônoma.

O cidadão contemporâneo não deposita mais expectativas em líderes carismáticos — fenômeno analisado por Max Weber e retomado por Bobbio ao discutir o desencanto com as lideranças tradicionais (BOBBIO, 2004). Hoje, o cidadão espera gestores eficientes, capazes de resolver problemas concretos como emprego, saúde, educação, segurança e mobilidade urbana.

O cidadão digital é ativo, crítico e exige soluções práticas, dados transparentes e políticas públicas alinhadas ao mundo conectado do século XXI. Como observa Shirky (2008), essa nova cidadania não espera ordens: ela cria movimentos, articula demandas e redefine a forma como sociedades participam do processo democrático.

Referências Bibliográficas

ARENDT, Hannah. Da Revolução. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
BLOCH, Marc. A Sociedade Feudal. Lisboa: Teorema, 1982.
BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999.
CASTELLS, Manuel. Redes de Indignação e Esperança. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.
DAHL, Robert. Sobre a Democracia. Brasília: Editora UnB, 2001.
FINLEY, Moses. Democracia Antiga e Moderna. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1994.
GRANT, Michael. A Civilização Romana. São Paulo: Ediouro, 1997.
HABERMAS, Jürgen. Mudança Estrutural da Esfera Pública. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003.
HOBSBAWM, Eric. A Era das Revoluções. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2014.
HOBSBAWM, Eric. A Era dos Extremos. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
HUNT, Lynn. A Invenção dos Direitos Humanos. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
MARSHALL, T. H. Cidadania, Classe Social e Status. Rio de Janeiro: Zahar, 1967.
SHIRKY, Clay. Here Comes Everybody. New York: Penguin, 2008.