As Corporações Como Impérios
Dos Impérios as Grandes Coorporações
HISTÓRIA MUNDIAL
Bruno Pereira Ferreira
11/8/20254 min read
As Corporações como Impérios
“Antigamente, os impérios dominavam o mundo com exércitos e bandeiras.
Hoje, empresas comandam populações inteiras com dados e algoritmos.
Google, Amazon, Tesla — os novos imperadores não conquistam territórios, conquistam mentes.”
Ao longo da história, impérios e reinos viveram em constantes guerras e disputas territoriais e comerciais. No Egito Antigo, por exemplo, parte do território foi invadido e conquistado por povos vindos da Ásia e da Europa, frequentemente motivados pela sua localização estratégica no Crescente Fértil e pela busca de recursos essenciais como a água. Como afirma Heródoto, “o Egito é uma dádiva do Nilo”, e por isso sempre atraiu invasores.
O Império Macedônico e o mundo grego expandiram-se de forma extraordinária sob Alexandre, o Grande, cuja conquista criou — segundo o historiador Peter Green — “o primeiro projeto universalista de unificação cultural do mundo conhecido”. Já o Império Romano ampliou seu domínio da Península Itálica para a Europa, o norte da África e a Ásia Menor. Sua organização administrativa e suas inovações militares transformaram profundamente as formas de guerrear, sobretudo nas fronteiras com os povos chamados bárbaros. Entretanto, como argumenta Edward Gibbon, a divisão interna e a posterior fragmentação do Império Romano aceleraram sua queda e conduziram à ruralização da Europa em feudos, onde o poder era exercido por senhores feudais.
Com a Idade Moderna, os reis voltaram a concentrar poderes quase absolutos. A burguesia ascendente apoiou a formação dos Estados Nacionais. Portugal tornou-se pioneiro nesse processo, seguido pela união dos reinos de Aragão e Castela na formação da Espanha. Dominavam então Estados fortemente centralizados, comandados por monarcas que poucos súditos viam pessoalmente.
O Iluminismo inaugurou a pluralização do poder e o surgimento das primeiras repúblicas modernas. Nos Estados Unidos, após a guerra de independência e a posterior reunificação entre Norte e Sul sob uma política antiescravista, consolidou-se uma república voltada ao comércio global e guiada pelo chamado Destino Manifesto. A Revolução Industrial entrou em sua segunda fase, e empresários e grandes proprietários de terra norte-americanos passaram a moldar uma nova estrutura econômica. Na Europa, Napoleão Bonaparte tentou impor uma hegemonia continental, mas, como observa Eric Hobsbawm, foi derrotado “tanto por seus erros estratégicos quanto pela resistência das potências europeias”.
Revolução Industrial e Ascensão das Empresas
A Revolução Industrial inglesa surgiu como alternativa ao capitalismo mercantil, inaugurando uma transformação econômica e social profunda. Ainda assim, guerras e tensões políticas frearam alguns avanços. Nos Estados Unidos, o fortalecimento das treze colônias unificadas acelerou o surgimento de grandes empresas. A expansão europeia e norte-americana pelo mundo, associada ao surgimento das bolsas de valores e das negociações de ações, deu origem ao capitalismo financeiro contemporâneo, descrito por Fernand Braudel como “a etapa superior e mais concentrada do capitalismo”.
A dependência crescente das economias nacionais em relação às grandes empresas passou a ser um fenômeno global. Ao mesmo tempo, desigualdades sociais aumentaram, principalmente no final do século XX, período marcado por independências africanas e asiáticas, além de crises políticas e econômicas na América Latina. Buscando conciliar crescimento com justiça social, diversos países adotaram modelos inspirados na social-democracia europeia, mas enfrentaram intensa pressão de corporações multinacionais para privatizar setores estratégicos do Estado.
A Internet e o Poder das Empresas de Tecnologia
A Internet, desenvolvida durante a Segunda Guerra Mundial e aperfeiçoada na Guerra Fria (ARPANET), transformou-se em uma infraestrutura global de comunicação. O avanço de tecnologias digitais e eletroeletrônicas permitiu o surgimento de empresas que, iniciadas em garagens do Vale do Silício, rapidamente se expandiram por todo o mundo devido ao baixo custo de reprodução de software.
A consolidação de gigantes como Google, Microsoft, Amazon, Meta e Apple introduziu uma forma inédita de domínio: o controle de dados. Como observa Shoshana Zuboff, vivemos hoje “a era do capitalismo de vigilância”, em que empresas monitoram comportamentos e influenciam decisões de bilhões de pessoas.
Se no passado impérios se sustentavam por exércitos, fronteiras e comércio, hoje o poder se exerce por aplicativos, sistemas operacionais, redes sociais e plataformas digitais — mecanismos capazes de moldar opiniões e comportamentos em escala global.
No Japão pós-Segunda Guerra, empresas de robótica e alta tecnologia consolidaram-se como forças centrais da economia. Nos Estados Unidos, o Vale do Silício tornou-se o principal polo mundial de inovação. Já a China, governada por um Estado centralizador, criou zonas econômicas especiais e patrocinou conglomerados tecnológicos ligados ao Partido Comunista Chinês, impulsionando um crescimento veloz baseado em mão de obra barata, muitas vezes comparada por autores como Ai Weiwei a uma “escravidão moderna”.
O Brasil, por sua vez, perdeu tempo diante das revoluções tecnológicas, embora tenha avançado institucionalmente na década de 1990 e buscado reduzir desigualdades a partir dos anos 2000. Contudo, o poder tecnológico global permanece concentrado nos Estados Unidos, China, Europa e Japão. O desafio brasileiro, portanto, é formular uma estratégia nacional de tecnologia capaz de reduzir dependências externas e promover inovação local.
Referências e Bibliografia Sugerida
História Antiga e Medieval
Heródoto. Histórias.
Gibbon, Edward. Declínio e Queda do Império Romano.
Peter Brown. The World of Late Antiquity.
Marc Bloch. A Sociedade Feudal.
História Moderna e Contemporânea
Hobsbawm, Eric. Era das Revoluções; Era do Capital; Era dos Impérios.
Benedict Anderson. Comunidades Imaginadas.
Perry Anderson. Linhas de Longo Curso.
Economia, Globalização e Capitalismo
Fernand Braudel. A Dinâmica do Capitalismo.
Karl Polanyi. A Grande Transformação.
David Harvey. O Neoliberalismo.
Tecnologia, Internet e Sociedade Digital
Castells, Manuel. A Sociedade em Rede.
Shoshana Zuboff. A Era do Capitalismo de Vigilância.
Yuval Noah Harari. 21 Lições para o Século 21 (capítulos sobre dados e poder).Escreva aqui o conteúdo do post
