O Confronto Ideológico

A Luta ideológica e fim da velha ordem e o começo de uma nova ordem.

POLÍTICA

Bruno Pereira Ferreira

11/14/20253 min read

people sitting and standing on battle tank
people sitting and standing on battle tank

“A esquerda e a direita nasceram em 1789, mas hoje parecem falar uma língua que o século XXI não entende.
O mundo mudou — e as antigas ideologias ficaram presas no passado.
Será este o fim das velhas bandeiras políticas?”

A Revolução Francesa de 1789 inaugurou, no cenário político moderno, a primeira forma de organização ideológica dentro de uma assembleia. À direita sentavam-se os girondinos, representantes da alta burguesia, formada por grandes comerciantes e proprietários, defensores das liberdades econômicas e da limitação do poder real. À esquerda estavam os jacobinos, ligados à pequena burguesia e apoiados pelos sans-culottes, trabalhadores urbanos e setores populares. No centro, encontrava-se a Planície (ou Pântano), grupo moderado e essencial para formar maiorias, composto por profissionais liberais e proprietários rurais. (HOBSBAWM, 1962).

A construção histórica das ideologias vai além da Convenção Francesa, mas ela representa um marco simbólico. Do ponto de vista político, as ideologias ganham forma mais definida com o avanço do liberalismo clássico, formulado por Adam Smith em A Riqueza das Nações (1776), e do socialismo científico, desenvolvido por Karl Marx e Friedrich Engels no Manifesto Comunista (1848) e no primeiro volume de O Capital (1867). Além disso, os ideais republicanos defendidos por Montesquieu, em O Espírito das Leis (1748), estruturaram a noção moderna de separação dos poderes — base dos Estados contemporâneos.

O avanço industrial do século XIX, o neocolonialismo na África e na Ásia e o acirramento das disputas imperialistas contribuíram para a eclosão de duas guerras mundiais no século XX. A Segunda Guerra (1939–1945) foi, como afirmam diversos historiadores, um conflito tanto militar quanto ideológico, colocando em choque projetos de sociedade: nazismo, fascismo, socialismo soviético e capitalismo liberal (ARENDT, 1951; HOBSBAWM, 1994).

Antes disso, a Revolução Russa de 1917 alterou profundamente o cenário político ao opor bolcheviques e mencheviques na disputa pelo poder. A vitória dos bolcheviques, sob a liderança de Lenin, e posteriormente Stálin, instaurou o primeiro Estado socialista da história. É importante destacar que dentro da própria direita e esquerda sempre houve diferenças internas — as ideologias nunca foram blocos homogêneos (BOBBIO, 1994).

Com o fim da Segunda Guerra, surgiram novas dinâmicas globais. Estados Unidos e URSS emergiram como superpotências e dividiram o mundo em dois blocos antagônicos, inaugurando a Guerra Fria, marcada por disputas políticas, econômicas, geopolíticas e tecnológicas. O temor de uma Terceira Guerra Mundial era constante, mas o confronto direto nunca ocorreu; em vez disso, proliferaram conflitos regionais apoiados por ambas as potências (LEFEBVRE, 2003).

Em 1945, após a conferência de São Francisco, 50 países assinaram a Carta das Nações Unidas, criando oficialmente a ONU, com o objetivo de mediar conflitos e evitar novos confrontos globais.

A partir da década de 1980, a URSS enfrentou profunda crise econômica e política. As reformas de Mikhail Gorbachevperestroika e glasnost — não lograram estabilizar o sistema soviético. Em 1989, o Muro de Berlim caiu; em 1991, a URSS foi dissolvida, encerrando simbolicamente a era dos extremismos ideológicos do século XX (LAQUEUR, 1993).

Os anos 1990 foram dominados pela expansão do capitalismo globalizado, impulsionado pelos Estados Unidos e por instituições financeiras internacionais. A cultura e a economia norte-americana se espalharam pelo mundo. Entretanto, o capitalismo sem regulação sofreu um forte abalo com a crise de 2008, que atingiu todos os continentes.

No início do século XXI, a disputa ideológica persiste, especialmente em países do Sul Global, como Brasil, Argentina e México. Nos Estados Unidos e na Europa, surgem novos movimentos conservadores e nacionalistas, enquanto a Rússia retoma protagonismo geopolítico e a China consolida-se como potência econômica e militar. O grupo BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) emerge como alternativa de cooperação econômica, sinalizando um mundo multipolar (STUENKEL, 2015).

Hoje, mais do que ideologias rígidas, peso maior recai sobre economias competitivas, tecnologias estratégicas, dados, informação e sustentabilidade. O Conselho de Segurança da ONU enfrenta crise de representatividade desde a Guerra do Iraque (2003), e cresce o debate sobre novos modelos políticos e novos formatos de participação na era digital.

Diante disso, fica a reflexão:
estamos diante do surgimento de uma nova forma política no século XXI?
Essa nova ordem poderá substituir definitivamente as antigas ideologias?

Referências (clássicas e acadêmicas)

  • ARENDT, Hannah. Origens do Totalitarismo. 1951.

  • BOBBIO, Norberto. Direita e Esquerda. 1994.

  • HOBSBAWM, Eric. A Era das Revoluções (1789–1848). 1962.

  • HOBSBAWM, Eric. A Era dos Extremos. 1994.

  • LAQUEUR, Walter. A Europa Pós-Guerra. 1993.

  • LEFEBVRE, Henri. A Lógica do Mundo.

  • MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto Comunista. 1848.

  • MARX, Karl. O Capital. 1867.

  • MONTESQUIEU. O Espírito das Leis. 1748.

  • SMITH, Adam. A Riqueza das Nações. 1776.

  • STUENKEL, Oliver. BRICS e o Futuro da Ordem Global. 2015.