O Fim das Ideologias

Do surgimento das ideologias aos extremos, e uma nova visão de política.

HISTÓRIA MUNDIAL

Bruno Pereira Ferreira

11/7/20254 min read

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“No século XIX, ideias se tornaram armas. Liberalismo, socialismo, fascismo — as ideologias dividiram o mundo e moldaram as nações.
Mas será que ainda vivemos sob o domínio dessas ideias, ou entramos numa nova era sem bandeiras?”

As revoluções dos séculos XVIII e XIX ocorreram devido a um processo de transformação social, política e econômica. Houve uma mudança do modelo econômico mercantilista para um modelo industrial e capitalista. Esse processo provocou uma revolução significativa na Europa, trazendo novos ares à política, especialmente na Inglaterra e na França. A partir do Iluminismo e de seus pensadores, formulou-se um novo pensamento social baseado no contrato social e no respeito aos poderes, retirando do rei a centralidade administrativa, jurídica e legislativa.

O surgimento das revoluções trouxe consigo os pensamentos liberal, socialista, fascista e nazista, que se espalharam pelo mundo como formas políticas, sociais e econômicas. Vale destacar que todos esses movimentos estavam baseados em rupturas e em uma forte centralidade em líderes e pensadores.

O liberalismo, pregado por Adam Smith, traz uma concepção moderna sobre o capitalismo — o laissez-faire, ou seja, a não intervenção do Estado e a livre iniciativa dos particulares, especialmente da alta burguesia. Esse modelo ganhou força na Inglaterra e em parte da Europa.
O socialismo passou por um processo gradual de construção: do socialismo utópico ao científico, formulado por Karl Marx e Friedrich Engels. Sem dúvida, esse socialismo foi implantado com a Revolução Russa de 1917, permanecendo até a década de 1990 como principal oposição ao modelo capitalista.

No início do século XX, duas doutrinas autoritárias se apresentaram ao mundo por meio de Benito Mussolini e Adolf Hitler. A tentativa de mudança da ordem mundial pela guerra resultou em um fracasso e em perdas humanas incalculáveis. Rapidamente, essas doutrinas extremas perderam força, e o mundo passou a se dividir entre esquerda e direita, representadas por modelos econômicos e por duas grandes potências: os Estados Unidos e a União Soviética. A disputa ideológica, econômica, militar e espacial dominou o cenário global até o colapso da URSS, em 1991. A partir daí, consolidou-se o modelo social-democrata como nova referência mundial.

A Crise das Esquerdas e das Direitas

Os extremos se confrontam e surge uma nova fórmula para os Estados nacionais: o fortalecimento dos partidos de centro, especialmente na Europa. O modelo que busca diminuir desigualdades sociais e manter o Estado como regulador do mercado, promovendo crédito e livre iniciativa, ganha força.
Nos Estados Unidos, o modelo de Bill Clinton é um exemplo desse equilíbrio. No Brasil, o PSDB, partido social-democrata, venceu com esse discurso, mas acabou se alinhando mais aos interesses da elite econômica, tornando-se mais liberal do que social e sem atingir plenamente as camadas populares.

Ainda convivemos com os extremos políticos no século XXI. Prova disso é o surgimento de Donald Trump nos Estados Unidos e Jair Bolsonaro no Brasil, ambos representantes da direita radical. Em contrapartida, surgem figuras da esquerda como Hugo Chávez e Nicolás Maduro, na Venezuela.
O processo de esquerdização da América do Sul se intensificou com os governos Kirchner, na Argentina, e Lula, no Brasil, marcados por discursos populistas e centralizadores. A Argentina, em crise profunda, adotou cortes severos para evitar o colapso.
Na Europa, a social-democracia ainda resiste, especialmente em líderes como Emmanuel Macron, embora enfrente forte oposição interna. Os países nórdicos mantêm o modelo há décadas com sucesso. Já a China repensou o socialismo e desenvolveu uma nova forma: o socialismo de mercado, com zonas de comércio livre e abertura controlada.

No Brasil, vivemos uma pulverização política, com economia instável e uma sociedade de extrema desigualdade. Contudo, nossas riquezas naturais e a força popular ainda representam esperança de renovação.

O Surgimento do Centro Tecnológico e Sustentável

Ao pensar o futuro político, é preciso observar o cenário nacional e internacional. Dois temas se destacam: tecnologia e sustentabilidade.
Crises, fome e guerras ainda permanecem em pauta, mas do ponto de vista político e histórico, toda postura extremista tende a ser efêmera. O centro político, ainda que não necessariamente social-democrata, precisa manter uma postura equilibrada e racional, criando novas condições para aglutinar pessoas em um ideário saudável em um mundo globalizado e multipolar.

“O problema das ideologias é que, quando viram dogmas, deixam de servir à sociedade e passam a servi-las a si mesmas.”
Norberto Bobbio, em “Direita e Esquerda” (1994)

Democracia em Rede e o Cidadão Digital

A democracia, ao longo da história, enfrentou inúmeros desafios, tanto no Brasil quanto no mundo, mas resiste. Hoje, busca maior participação popular. Pesquisas indicam que a população deseja ser ouvida de forma direta, sem grandes espetáculos midiáticos.

O uso da internet e da tecnologia é fundamental para o sucesso da democracia do futuro. Escutar os cidadãos por meio de sites, aplicativos e fóruns digitais fortalece o debate e a participação social. Passeatas e manifestações podem ser necessárias, mas devem ser organizadas e com pautas claras. Criticar sem propor soluções não gera progresso — é preciso debater ideias com respeito, buscando soluções coletivas e inovadoras.

“A democracia deve ser uma construção diária, feita não apenas pelos líderes, mas pelos cidadãos conectados, conscientes e participativos.”
Manuel Castells, em “Redes de Indignação e Esperança” (2013)

Assim, o debate de ideias e propostas, sem denegrir a imagem de ninguém, é o caminho mais saudável para sociedades multipolares e globalizadas — do menor município à maior metrópole, do pequeno país à grande nação.

Citações Utilizadas

  1. Smith, Adam. A Riqueza das Nações. São Paulo: Abril Cultural, 1983.

  2. Bobbio, Norberto. Direita e Esquerda: Razões e Significados de uma Distinção Política. São Paulo: Editora Unesp, 1994.

  3. Castells, Manuel. Redes de Indignação e Esperança: Movimentos Sociais na Era da Internet. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.